Decidi escrever hoje por ser um dia particularmente difícil. Há três anos e meio eu recebi o tão esperado resultado do vestibular. Sisu, na verdade. Morei minha vida toda em Minas com meus pais e estava ali diante de uma decisão difícil. Minha vaga era na UFAM - em Manaus. É um mix de sensações inexplicável - de um lado toda a sua vida, sua família, seus amigos e do outro aquilo pelo qual você lutou e desejou com toda a força que acontecesse. Eu estava ali realizando um sonho e é um momento maravilhoso - e eu vim. Talvez tenha sido a decisão mais difícil que tomei na vida, embora eu estivesse completamente decidida que era o que queria para mim. Não é fácil deixar para trás todo mundo. Não é fácil saber que você irá reencontrar pessoas, duas a três vezes em um ano. Promessas são feitas entre amigos que nunca irão se separar. E na prática, não é tão simples. Manaus não é um "lugar logo ali".
Morar sozinha me trouxe muita responsabilidade e me obrigou a crescer. Encarar o novo, o diferente foi muito importante para crescimento pessoal. Mas, meu sentimento hoje, o tema principal de hoje são as PERDAS.
Não digo a perda de amizades, porque é natural da vida, tem pessoas que vem e que vão, por mais clichê que isso pareça. Pessoas aparecem em nossa vida e cumprem o seu papel naquele momento e você guarda delas a lembrança, o carinho, os bons momentos. A perda a qual me refiro - e que é a mais difícil de lidar - são os momentos. E a gente percebe isso logo.
Nas minhas primeiras férias, 3 ou 4 meses depois de ter mudado, quando retornei veio o primeiro susto: meu priminho tava enorme. A ficha começa a cair.
Coisas que antes não dava importância, e agora me pego pensando no quanto era bom e no quanto não valorizava. Coisas simples como comer uma pamonha um dia a tarde na casa da avó. Eu nem gostava de pamonha, hoje quando eu chego é uma das coisas que mais procuro. Um jantar em família com a comida feita no dia e, por mais que esteja todo mundo cansado, por vezes estressado, estávamos todos ali, juntos.
Você se depara com as fotos no grupo da família com todos reunidos em um aniversário - aquele que você ia por obrigação - e tudo o que você gostaria era de estar junto. Estar rindo junto, comemorando junto. Ou um sábado a noite, com sua família em um bar. Você está com seus amigos, mas, Ah, como queria estar naquele bar,
Você vê seus amigos se formando e até mesmo casando e você perde. Perde o momento, o momento que não volta. E tudo que você gostaria era de estar presente, dar um abraço apertado. Se sentir parte daquilo, daquela conquista. É um sacrifício e tanto.
Antigamente, eu falava para todo mundo o quanto eu me adaptei bem, e é verdade. E sempre incentivei as pessoas a buscarem o novo, abrir os horizontes. "Onde você passar, vai. As coisas são difíceis, mas você se ajeita e se acostuma". A verdade é que você não acostuma, você apenas tenta ignorar os sentimentos para parecerem mais fáceis do que são. Hoje tenho muita cautela em dizer isso, não é pra todo mundo. Não é todo mundo que consegue lidar. E isso não é errado, cada pessoa lida de maneiras diferentes com a mesma situação. Nunca se deve falar: eu te entendo, passei por isso. Não, você não sabe o que o outro tá sentindo. Você, no máximo, sabe o que VOCÊ sentiu na mesma situação. Mas é um sentimento que é SEU.
Quando disse no início que hoje é um dia difícil (na verdade o dia tá sendo difícil desde ontem) é que minha irmã está passando pelo que eu passei. Ela recebeu o resultado do Sisu e também vai mudar de Uberlândia. Mas, o caso dela, é que é de fato "logo ali". Talvez seja mais fácil, talvez não. E hoje, o sentimento que tenho é de uma perda muito grande. Eu fui a primeira a ver que ela passou, antes dela mesma e na hora eu liguei. E se eu pudesse, eu atravessava o telefone e dava um abraço apertado, dava os parabéns, tão merecidos, por sinal. Essa é uma perda difícil de lidar, um momento que você sonha junto, vive junto, mas você não está junto. E isso torna ainda mais difícil eu dizer: VAI.
Mas você sabe que está aqui por um propósito. Tem perdas, mas também tem ganhos.
Eu não quero desencorajar ninguém a mudar. Se eu me arrependo da minha decisão, lá atrás? Nem um pouco. Se eu faria tudo de novo? Faria. É fácil? Não. Mas a gente vai contornando, vai lidando. Hoje é um dia difícil. Mas daqui uma semana eu irei para a casa. E sabe qual a parte boa disso tudo? Você valoriza o momento com quem você ama. Você entende o quanto é maravilhoso estar ali.
Continua tendo brigas, igual toda família? Claro, mas elas têm muito menos importância. Você aprende o que realmente importa.
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